A criança é um ser em transformação, cujas células trabalham intensamente para promover o crescimento e o desenvolvimento de órgãos e sistemas. Esta atividade intensa das células e as transformações rápidas pelas quais o corpo da criança passa, podem ser causa de alguns problemas nos ossos e articulações. Além disso, as mudanças intensas e rápidas podem confundir pais e até os médicos, que podem identificar como doença ou defeito algo que é apenas uma fase de desenvolvimento de um membro.

Especialmente o joelho das crianças é causa comum de ansiedade dos pais. Isso ocorre porque, durante as diferentes fases da infância, a angulação do joelho se modifica, e o que é normal em um período da infância, não será em outro período posterior.

As pessoas mais observadoras podem perceber que, nos bebês recém-nascidos, os membros inferiores são levemente curvados para fora. Isso fica evidente com uma simples manobra: se as pernas de um bebê, com alguns meses de vida, forem aproximadas uma à outra, podemos perceber que os tornozelos irão de tocar, mas os joelhos permanecerão um pouco afastados. Já na criança mais velha, com seus três anos de idade, ao realizar a mesma manobra, de unir as pernas, os joelhos irão se tocar, mas os tornozelos irão de afastar (gerando uma figura que lembra um ‘X’).

Este é o padrão normal de desenvolvimentos dos joelhos humanos, algo que ocorre há milhares de anos, mas, por ser tão natural, nem nos damos conta. Imagine, porém, a seguinte situação: você tem dois filhos, um bebê de meses e outro com seus três anos de idade, e, no meio da rotina agitadíssima que envolve cuidado de duas crianças pequenas, você percebe que os joelhos de um filho são completamente diferentes dos joelhos do outro! Muita coisa pode passar pela cabeça, não é?  Já recebi algumas centenas de pais no consultório, em situações semelhantes, e, após uma boa avaliação clínica, uma conversa resolve o problema completamente.

Por outro lado, há momentos em que os pais suspeitam corretamente, e realmente há algo errado com o joelho de seu filho. As situações que, apesar de infrequentes, tem mais chance de acontecer, são caracterizadas não pela mudança da angulação dos joelhos, mas pela persistência e acentuação desta angulação. Por exemplo, se após os dois anos de idade a criança continua com os joelhos para fora, sem a mudança para o padrão em ‘X’, isso é algo que deve ser investigado, pois existem algumas alterações do desenvolvimento ósseo que ocasionam este tipo de padrão, cujo tratamento precoce é muito mais simples e efetivo.