
Condropatia, condromalácia, dor femoropatelar: o que eu tenho?
Muitos pacientes chegam ao consultório preocupados com o desgaste das cartilagens do joelho. Grande parte deles trazem um exame de ressonância magnética que assinala a presença de condropatia patelar. Invariavelmente, os mais preocupados, pesquisam no Google o termo condropatia, o que faz com que cheguem ainda mais ansiosos na consulta.
Realmente, condropatia é o termo utilizado para designar a existência de sofrimento ou doença da cartilagem. Ocorre, no entanto, que a existência de algum grau de condropatia pode estar presente mesmo em pacientes jovens, saudáveis e sem dores. Por este motivo, a existência de sinais de condropatia não significa, necessariamente, que o joelho já está gasto, especialmente quando esta condropatia localiza-se na patela.
Para explicar melhor esta situação, vamos voltar no tempo cerca de trinta anos, quando os exames de ressonância magnética ainda não estavam plenamente desenvolvidos e difundidos. Naquela época, a única possibilidade de avaliar com precisão as cartilagens do joelho era durante procedimentos cirúrgicos, e tais procedimentos eram realizados somente quando os pacientes apresentavam quadros graves, e que não melhoravam com tratamentos menos invasivos.
Tínhamos então uma ‘amostra viciada’, pois somente podíamos avaliar os joelhos graves, e a ideia que surgia era de uma relação direta entre condropatia e dor no joelho. Aliás, o termo condromalácia é específico desta época pré-ressonância e significa ‘cartilagem amolecida’, pois ao se apalpar a cartilagem com sofrimento percebia-se alteração da sua consistência, caracterizado por seu amolecimento.
De lá para cá, a ressonância trouxe a possibilidade de avaliar de maneira mais precisa e sem os riscos de uma cirurgia, o interior das articulações. Mais que isso, este exame tornava possível avaliar alterações suaves e iniciais das cartilagens. A amostra agora era ampla, a impressão de relação direta entre condropatia da patela e dor já não era tão clara, e foi necessário reformular o entendimento sobre diversos problemas nos joelhos.
Hoje, o que nós sabemos é que:
– Condropatia patelar leve e restrita a uma área pequena não é sinônimo de desgaste do joelho.
– A presença de condropatia da patela é sinal que o mecanismo, do qual faz parte a patela, não está funcionando adequadamente. O nome técnico deste funcionamento inadequado é disfunção femoropatelar.
– O principal objetivo do tratamento da disfunção femoropatelar é regularizar o funcionamento do mecanismo patelar através de exercícios e do condicionamento da musculatura que atua nos joelhos e nos quadris.
– Uma vez alcançada a correção do funcionamento da patela, a existência de algum grau de condropatia não ocasionará sintomas, e este funcionamento adequado será ainda responsável por proteger a cartilagem de uma progressão da condropatia.