
Sutura dos meniscos
Os meniscos são estruturas que recebem muito pouca irrigação sanguínea. Apenas o seu anel externo apresenta vasos sanguíneos, sendo que o restante de sua estrutura é nutrido apenas por difusão. Esta característica explica porque os meniscos não cicatrizam facilmente.
As lesões meniscais graves, há 50 anos atrás, eram obrigatoriamente tratadas através da retirada de todo o menisco e este procedimento era realizado por via aberta, isto é, através de grandes incisões. As mudanças biomecânicas consequentes à retirada completa do menisco desencadeavam uma aceleração do processo degenerativo no joelho, o que determinava um quadro de artrose significativa alguns anos após o procedimento cirúrgico.
Com o desenvolvimento da videoartroscopia, que é a cirurgia articular por vídeo, iniciou-se uma mudança no padrão de tratamento das lesões meniscais. Inicialmente a grande novidade era a possibilidade de ressecção apenas das porções lesadas do menisco, preservando-se as porções estáveis, o que significava uma menor mudança biomecânica do joelho e um processo degenerativo menos intenso e mais lento no joelho operado.
Conforme as técnicas videoartroscópicas foram sendo dominadas e novas tecnologias incorporadas, o desafio que se impôs foi o de preservar os meniscos através de suturas meniscais. Tal desafio era representado não somente pela dificuldade técnica de se realizar a sutura de uma estrutura tão pequena e localizada em um espaço estreito entre dois ossos, mas principalmente pela limitação natural do processo cicatricial nos meniscos, devido a sua pouca irrigação sanguínea.
Estudos desenvolvidos possibilitaram determinar os principais fatores de sucesso nas suturas meniscais, que são:
1- Idade do paciente: pacientes mais jovens (segunda e terceira décadas da vida) tem maiores chances de cicatrização.
2- Localização da lesão: quando a lesão é na periferia do menisco, que é a área mais vascularizada, as chances de cicatrização são maiores. Quanto mais a lesão de afasta da área vascularizada, menores as chances de cicatrização.
3- Tipo do traço de lesão: os meniscos podem se rasgar de várias maneiras. As lesões chamadas verticais, das quais a lesão em ‘alça de balde’ é um exemplo, são as que apresentam maior chance de cicatrização.
As lesões que formam um ‘flap’, ou seja, um pequeno retalho, uma aba, são as que tem menor chance de cicatrização. As lesões radiais também são menos propícias à cicatrização.
Estes fatores, no entanto, apenas permitem que sejam estimadas as chances de cicatrização da lesão, mas não se constituem em contraindicação absoluta ao procedimento. Por outro lado, há outras situações que, se presentes, contraindicam a realização da sutura meniscal. Duas delas podem ser identificadas no pré-operatório e a terceira apenas durante o procedimento.
As condições que podem ser identificadas no pré-operatório são:
1- Presença de artrose: se a lesão meniscal ocorre em um joelho no qual já há processo degenerativo significativo, não há razão para a tentativa de sutura meniscal.
2- Lesões meniscais degenerativas de traços complexos: em geral as lesões meniscais degenerativas apresentam vários traços, o que inviabiliza a sutura.
3- A terceira condição que contraindica a realização de suturas meniscais é a irredutibilidade da lesão, que ocorre quando não é possível recolocar o fragmento lesado em sua posição original. Em geral isso ocorre pela deformação do fragmento, e esta situação somente pode ser avaliada durante o procedimento, ao serem realizadas as manobras de redução do fragmento e a avaliação de seu posicionamento.
Uma outra situação que merece ser mencionada, ao se falar sobre suturas meniscais, é que as suturas meniscais que são realizadas conjuntamente a reconstrução do ligamento cruzado anterior, tem maiores chances de cicatrização. Uma outra situação que merece ser mencionada, ao se falar sobre suturas meniscais, é que as suturas meniscais que são realizadas conjuntamente a reconstrução do ligamento cruzado anterior, tem maiores chances de cicatrização. As evidências sugerem que este fenômeno ocorre devido ao sangramento intra-articular que naturalmente ocorre após a reconstrução do ligamento cruzado anterior.
Argumenta-se que tal sangramento acaba por fornecer células e substâncias que otimizam o processo de cicatrização meniscal.
Em resumo:
-As lesões verticais (entre elas a lesão em alça de balde), localizadas na periferia do menisco, junto à cápsula articular, especialmente em pacientes jovens, tem as maiores chances de cicatrização.
-As lesões verticais na periferia do menisco, mesmo em pacientes após os 40 anos de idade, quando realizadas durante a reconstrução do ligamento cruzado anterior, também tem boas chances de cicatrização, e justificam o procedimento de sutura meniscal.
-As situações que representam contraindicações absolutas a sutura meniscal, que podem ser identificadas no pré-operatório, são a presença de artrose já instalada no joelho e a presença de traços de rotura complexos no menisco a ser suturado.
-Pacientes com mais de 40 anos, com traços de rotura meniscal localizados na porção avascular do menisco, principalmente nas lesões em flap e radial, tem as menores chances de cicatrização. Apesar de não serem contra-indicações absolutas ao procedimento de sutura meniscal, a ocorrência de lesões em ‘flap’ ou lesões radiais em pacientes com mais de 40 anos de idade tem tão poucas chances de cicatrização, que, geralmente, médico e paciente optam pela ressecção parcial do menisco, ao invés da sutura.