Apesar de consagrado pelo uso, este termo é completamente inadequado. Primeiro por passar a falsa noção que, necessariamente, o processo biológico de crescimento é doloroso. Em segundo lugar, por rotular com este nome algumas dezenas de situações que podem ocasionar dor nos membros e que tem como ponto em comum o ocorrer na fase de crescimento.

O quadro mais comum, destes rotulados como dor de crescimento, é caracterizado por reclamação de dor na face anterior dos joelhos e das pernas, em geral à noitinha, especialmente após um dia de muitas atividades e brincadeiras.

Os pais relatam que a criança costuma passar bem o dia todo e, geralmente próximo da hora de dormir, começa a se queixar de dores nas pernas. Estes pais referem não observar quaisquer outras alterações, tais como edema das pernas, calor ou vermelhidão no local doloroso, febre ou perda de apetite da criança. Os pais também contam que, após fazer massagem com álcool ou algum gel que esquente o local, a criança de acalma e dorme, acordando no outro dia sem qualquer sinal de que teve dores na noite passada.

Este quadro misterioso, que é bastante comum, acomete crianças por volta dos quatro anos de idade, saudáveis, ativas e com algum grau de frouxidão ligamentar. Não há ainda um consenso completo em relação a sua causa específica, mas parece haver relação com algum tipo de fadiga muscular, pois geralmente ocorre após um dia intenso e melhora após massagens. A frouxidão ligamentar parece relacionar-se ao quadro, pois determina uma maior sobrecarga da musculatura para estabilizar as articulações.

Já acompanhei centenas de crianças com este quadro e costumo agir da seguinte forma: faço uma avaliação clínica minuciosa, para descartar doenças que pudessem ocasionar dores nos membros inferiores. Geralmente peço uma bateria de exames de sangue, para afastar causas patológicas de fadiga muscular, tais como anemia, alteração de hormônios tireoideanos ou outras alterações metabólicas. Eventualmente, dependendo de algum achado do exame físico, posso solicitar exames de imagem. Após esta investigação, se não encontrar nenhuma doença oculta, tranquilizo os pais e acompanho a criança em consultas esporádicas por um ou dois anos. Os pais ficam seguros para administrar as crises, e as crianças, ao longo de alguns meses, param espontaneamente de apresentar estes quadros.

Como disse, este é apenas uma das situações rotuladas como dor de crescimento, mas creio que é a mais comum e a mais ‘misteriosa’. Há ainda outras situações, nas quais podemos fazer diagnósticos mais específicos, tais como alguns tipos de inflamações de cartilagens de crescimento, conhecidos como osteocondroses. Estes casos apresentam resolução espontânea, não costumam deixar sequelas e costumam apresentar manifestações bem específicas, sendo que os exames de imagem podem fornecer um diagnóstico preciso.

Meu conselho, diante de dores nos membros em crianças: se não houver febre, alterações do estado geral da criança e se não houve nenhum trauma, não há necessidade de procurar um pronto-socorro imediatamente. Se as dores forem nas pernas, massagens com fricção suave podem ajudar.

O uso de analgésicos simples, tais como a dipirona ou o paracetamol, também podem ser bem-vindos, se a criança não tiver contra-indicações específicas ao uso destes, tais como alergias. No outro dia, com calma, agende uma consulta com o ortopedista.